Na ilha do Sal, a mais turística de Cabo Verde, cerca de 400 famílias viviam dos táxis e das ‘corridas’ diárias que começavam cedo. A vida foi alterada pela covid-19, deixando estes profissionais a tentar apenas sobreviver.
“Como o turismo parou, eles também voltaram para as suas ilhas”, aponta, para logo de seguida garantir: “Mas acredito que vai começar a melhorar”.
Pouco antes da pandemia, a autarquia do Sal aprovou um reforço no contingente de táxis, até ao limite de 330, contrariamente ao máximo de 200 antes estipulado, segundo deliberação dos órgãos locais.
Aquela ilha, com uma população residente de cerca de 35.000 pessoas, contava com um contingente máximo de 120 táxis em 2001, número que foi revisto em 2007 para 200.
“É evidente que, decorrida mais de uma década sobre a data do contingente de 200 táxis, visto a importância que os transportes públicos de aluguer em táxi desempenham numa ilha turística como o Sal, (…) à primeira vista, parece liminarmente insuficiente, não somente para as necessidades do mercado Sal, como também das demandas turísticas”, previa uma deliberação municipal de dezembro de 2019.
O documento referia ainda que à data, segundo os próprios profissionais de táxi da ilha, estavam no mercado “mais de 400 táxis”.
Marco Gomes, 29 anos, é um desses taxistas, a sua principal ocupação há quatro anos, embora admita que já antes não tinha tanto trabalho como gostaria, culpando os programas de férias “tudo incluído” dos operadores, que fazem com que os turistas praticamente não saiam do hotel. “Já não havia muito trabalho, agora ficou ainda pior. Foram meses sem trabalhar”, recorda o taxista, sobre os primeiros meses da pandemia.
Apenas desde dezembro, com a retoma pontual de alguns voos internacionais para o Sal, suspensos desde 19 de março, é que recomeçou a trabalhar, mas num cenário em que a grande maioria dos hotéis da ilha permanecem encerrados.
“Nenhum de nós vai esquecer 2020, principalmente a nossa classe, que sofre muito com isso. Se os hotéis não estão abertos, não temos trabalho”, assume Marco, que por isso tem-se dedicado a outros trabalhos, além do táxi, para tentar sustentar a família.
“Posso ir à pesca, fazer outra coisa. Mesmo sem pandemia não conseguia viver só de táxi”, conta, explicando que dos cerca de 300 euros por mês que recebia antes, 200 euros pagavam a renda de casa da família.
E a preocupação aumenta, ao ver o pontão de Santa Maria sem praticamente sem turistas. “Está melhor do que no início. Já dá para fazer alguma coisa, mas ainda não dá para pagar as contas”, aponta.
Ainda assim, Marco resume o pensamento generalizado no Sal, enquanto os turistas chegam a conta gotas às praias de areia branca e ao mar azul da ilha: “Todos nós estamos a esperar por dias melhores”.