Na imensidão do oceano Pacífico, há um ponto que não é ladeado por nenhuma porção de terra ao longo de milhares de quilómetros.
É o chamado Ponto Nemo, um dos lugares mais isolados do planeta, mas que se tornou um dos destinos favoritos de cientistas — e, consta, a casa de criaturas míticas.
Trata-se de um local único e fascinante, com muitas surpresas escondidas certamente.
Localizado no sul do Oceano Pacífico, nas coordenadas GPS 48°52.6′S 123°23.6′W, está a exatamente 2.688 quilómetros de distância da costa mais próxima, o que o torna o ponto mais isolado do planeta.
A ilha Ducie, pertencente às Ilhas Pitcairn, a ilha Motu Nii, pertencente a Páscoa, e a ilha Maher, próximo de Marie Byrd Land, são os massas terrestres mais próximas, quebrando assim o isolamento a que o Ponto Nemo está sujeito.
No entanto, também estes territórios estão desabitados, pelo que para encontrar vida humana nas redondezas teria que viajar até à Nova Zelândia, a 4.023 quilómetros, ou até à Ilha de Páscoa, a 3.540 quilómetros.
A viagem, que teria de ser feita de barco, seria só para os mais corajosos, já que duraria qualquer coisa como duas semanas (ou mais).
Um elemento curioso é que, na realidade, os vizinhos mais próximos do Ponto Nemo são, na verdade, os astronautas que vivem na Estação Espacial Internacional (ISS), no Espaço. Sim, porque estão a 415 quilómetros de distância do local exato.
Caso nunca tenha ouvido falar de um ponto de inacessibilidade, fique a saber que este consiste no ponto mais afastado de qualquer massa terrestre ou costa. É, também, o centro geográfico de uma área. Como tal, o ponto Nemo é o ponto de inacessibilidade Ocêanico por ser o lugar mais afastado da terra.
A singularidade do Ponto Nemo, como ponto de inacessibilidade, é também vista na sua distância igual de todas as massas de terra próximas, que são Moto Nui, Ilha Ducie, e Ilha Maher, cada uma a 2.688 quilómetros de distância.
Apesar de todas as viagens de exploração marítima e todos os instrumentos de navegação, o Ponto Nemo só foi descoberto há cerca de três décadas.
O responsável foi Hrvoje Lukatela, um engenheiro com nacionalidade croata e canadiana, que recorreu a ideias teóricas para determinar a posição do ponto Nemo.
Os dados utilizados foram fornecidos pela Agência de Mapeamento da Defesa dos EUA, uma base de dados abrangente de órbitas de satélite e localizações terrestres.
Lukatela nem precisou de visitar o Ponto Nemo para verificar a sua existência, tirando partido de um software computacional que lhe permitiu fazer modelagens e simulações realistas.
Não, não está relacionado com o peixe da Disney
O nome pelo qual é conhecido pode facilmente ser confundido com o do peixe mais famoso do cinema, no entanto, não há qualquer relação entre os dois, para além da forte ligação ao mar.
O ponto Nemo foi nomeado em homenagem à personagem Capitão Nemo em Vinte Mil Léguas Submarinas de Júlio Verne. Pode ser traduzido como “nenhum homem” do latim, um nome que se encaixa que nem uma luva num lugar tão isolado e sem vida humana.
O ponto Nemo é uma zona de oceano profundo, sem ilhas vizinhas, recifes ou infraestruturas construídas por humanos. Na superfície oceânica reinam planícies abissais, trincheiras e cadeias de montanhas marcadas por um profundo silêncio.
Apesar da riqueza das águas, a pressão extrema do mar profundo e as temperaturas baixas fazem dele um ecossistema quase inabitável para a maioria das formas de vida.
A ausência de luz solar e outros nutrientes também torna a sobrevivência difícil, mesmo para as espécies mais resilientes.
Casa de Cthulhu e cemitério de naves espaciais
Curiosamente, este território é também o lar de Cthulhu, uma entidade cósmica saída da cabeça do autor H.P. Lovecraft, na sua famosa obra fictícia – O Chamado de Cthulhu.
Tal como lembra o History Defined, Cthulhu é um enorme monstro que é parte polvo e parte dragão e que exerce enorme poder e influência.
Na mitologia de Lovecraft, ele supostamente idolatra entidades alienígenas, conhecidas como os “Grandes Antigos” que o adoram.
Point Nemo é, por isso, o lugar perfeito para Cthulhu se esconder do mundo. É incrivelmente remoto, as águas profundas são geladas, tornando-o um lar ideal para uma criatura deste tipo. Para tornar o enredo ainda mais credível, o ponto Nemo é considerado águas internacionais.
Apesar da sua ausência de vida e localização periférica, os humanos rapidamente viram no ponto Nemo uma utilidade. É o sítio perfeito para fazer aterrar satélites artificiais e outras estruturas espaciais que tenham saído da sua órbita.
Servindo-se de mecanismos de controlo de aterragem seguros, os cientistas conseguem, através desta localização, garantir que as estruturas voltam à Terra sem representarem um perigo para a vida humana, mas também para o tráfego marítimo.
Outro fator que contribuiu para a escola deste local é o facto de a zona ter pouquíssimas correntes, o que significa que as peças não irão navegar para outras geografias.
A primeira nave espacial a ser enviada para Point Nemo foi a Salyut 1 da União Soviética em 1971.
Desde então, mais de 250 naves espaciais tiveram o ponto Nemo como última morada, nomeadamente a estação espacial Mir e o laboratório espacial Skylab.
Outrora, pensou-se que podia ter vida
Corria o ano de 1997 quando a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos gravou um som alto com origem no ponto Nemo, um local que se acreditava não ter qualquer mostra de vida.
De facto, não foi apenas o organismo norte-americano a aperceber-se destes ruídos.
Mais tarde, acabou por se perceber que o misterioso som viajava por todo o oceano Pacífico através do eco, sendo conhecido atualmente por Bloop.
Após alguns estudos, percebeu-se que o Bloop nada mais era do que uma série de sinais de baixa frequência e de alta amplitude que viajavam a intervalos irregulares.
O som foi comparado ao canto de uma baleia, embora muito mais alto e poderoso, ao ponto de poder ser detetado em muitos sensores ao longo de milhares de quilómetros.
Na altura, muitas teorias circularam na tentativa de explicar as origens do Bloop. Desde um grande animal aquático, como uma baleia ou uma lula gigante, como causadoras do som.