O Nepal acaba de anunciar novas regras para escalar o Evereste. Com 8848 metros de altitude, é a montanha mais alta do mundo e verdadeira obsessão para alguns alpinistas, colecionadores de cumes, e cujo número parece estar a crescer.
Terá sido uma fotografia que correu mundo de um engarrafamento, com mais de 200 pessoas em fila a escalar o Evereste, a par da morte e desaparecimento de pelo menos onze alpinistas, em maio, que levou o governo nepalês a agir para prevenir mais situações do género.
Uma das medidas criadas é a obrigação de quem queira escalar a montanha já ter feito, pelo menos, uma subida até aos 6500 metros de altitude. A apresentação de um relatório médico atestando condições físicas para a escalada e contratação de um guia local são outras das imposições, escreve o Diário de Notícias.
Para o alpinista português João Garcia, que em 1999 chegou ao teto do mundo, sem recurso a oxigénio artificial, e lá colocou a bandeira portuguesa, num feito que custaria a vida do seu amigo, o belga Pascal Debrouwer, e a ele deixaria marcas para sempre – as queimaduras por congelamento das extremidades obrigaram à amputação de alguns dedos das mãos e dos pés e a um implante de nariz – estas são “regras para inglês ver”.
Crítico da forma como as autoridades tibetanas e as empresas locais gerem a exploração da montanha mais alta do mundo, o alpinista português, que já fez as 14 montanhas com mais de oito mil metros de altitude, considera estas medidas são manifestamente insuficientes para prevenir mortes, acidentes e tragédias e promover uma exploração mais responsável da montanha.
“Do ponto de vista físico e fisiológico, já para não falar do resto, estar a uma altitude de 6500 metros é muito diferente de estar a 8850, com ou sem oxigénio. No mínimo, para estas medidas terem significado, o alpinista teria de apresentar um currículo com experiência e teria de já ter feito montanhas a 7000 ou mesmo 8000 metros de altitude”, disse João Garcia.
O alpinista referiu ainda que, naquele contexto, estas regras são facilmente contornadas. “Estes certificados pode ser facilmente forjados”, afirmou.
Para João Garcia, muito mais importante seria garantir que “cada grupo tivesse experiência, condições e sobretudo uma equipa de socorro mil metros abaixo, mas isso custa dinheiro. Mais uma vez, é o negócio que norteia as decisões do governo do Nepal”, acrescenta o alpinista.
Mais de 300 montanhistas morreram no Evereste desde que alguém conseguiu alcançar o seu cume pela primeira vez, em 1953. Não é possível precisar quantos desses corpos ainda estão na montanha pois não existem dados. Centenas de alpinistas e os seus guias passam semanas no Evereste durante a primavera, que é considerada a melhor altura para subir a montanha.