“Uma coisa nunca vista”. Invasão de turistas tira sossego a aldeia minhota

Após anos de esquecimento como um paraíso perdido nos limites do Parque Nacional da Peneda-Gerês, a aldeia de Sistelo, em Arcos de Valdevez, vive um momento de invasão turística que espanta os locais. O “pequeno Tibete português”, como é conhecido, está a ganhar nova vida, mesmo que à custa do sossego de quem lá vive.

“Antes não se passava nada, mas agora é uma coisa nunca vista. Ainda no domingo, era aqui gente que eu sei lá”, conta à agência Lusa a ‘ti’ Amélia, dona de uma tasquinha no coração da aldeia de Sistelo.

Com cerca de 270 habitantes, esta localidade nos limites do Parque Nacional da Peneda-Gerês tornou-se famosa pelos seus socalcos, os campos em forma de escadas que foram escavados nas montanhas em torno da aldeia, para permitir o cultivo e assegurar a agricultura de subsistência.

Durante largos anos, a população local viveu desse trabalho nos campos, mas foi a emigração em massa que permitiu à aldeia sobreviver. Uma boa parte dos sistelenses continua a residir longe da sua terra. E a grande maioria da população que vive na aldeia tem mais de 60 anos, com apenas 3 crianças com menos de 10 anos, relata o presidente da Junta de Freguesia de Sistelo, Sérgio Rodrigues, em declarações à Lusa.

O novo fôlego turístico que a aldeia vive, graças à invasão de visitantes portugueses e espanhóis, é o ímpeto que pode preservar Sistelo como Monumento Nacional, enquanto paisagem cultural evolutiva viva, classificação que lhe foi recentemente atribuída.

“Temos de fazer pela vida e aproveitar a nossa galinha dos ovos de ouro. Se os turistas nos procuram, há que saber prendê-los e fidelizá-los”, diz à Lusa Sérgio Rodrigues.

Sistelo é, actualmente, o grande cartaz turístico de Arcos de Valdevez e do Alto Minho. A aldeia ganhou visibilidade depois de ter sido eleita uma das 7 Maravilhas de Portugal (Aldeia Rural), no concurso da RTP.

Inserido na área da Reserva Mundial da Biosfera da UNESCO, Sistelo começou por ser uma das prioridades dos roteiros turísticos dos amantes da natureza, desde logo por causa dos cerca de dez quilómetros de passadiços que estão integrados na ecovia do rio Vez.

Mas, actualmente, todo o tipo de turistas chega a Sistelo para espanto e desassossego dos locais. Entre os mais velhos, há quem fuja para os campos, para evitar as câmaras fotográficas dos turistas. E se há quem se queixe destes visitantes por invadirem os campos, para roubar fruta, outros desentendem-se na disputa pelos euros dos turistas.

Mas, para os mais jovens, esta é uma oportunidade de ouro para construir um futuro na sua terra.

A ‘ti’ Amélia está a ampliar a sua tasquinha e até o pároco local, Bruno Barbosa, autorizou a instalação de um restaurante na residência paroquial, que vai abrir neste sábado.

A Casa do Castelo, o monumento ex-libris de Sistelo, está a ser transformada num centro interpretativo da paisagem cultural, para acolher os turistas e os “guiar” pelos recantos da aldeia. Também está a ser recuperado um velho moinho e estão previstas obras de ampliação nos passadiços, numa eira de espigueiros e num miradouro.

Enquanto ainda há vacas à solta nos montes e estradas da freguesia, o futuro de Sistelo passa, cada vez menos, pela agricultura e entrega-se às mãos dos turistas.

ZAP // Lusa



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