Uma lei (não oficial) proíbe as mulheres egípcias de reservar quartos de hotel

O Egito é considerado um dos países do mundo onde há uma maior desigualdade de direitos entre homens e mulheres. Este é apenas um dos pontos que marcam a acentuada discriminação feminina.

De acordo com o Centro Egípcio para os Direitos das Mulheres (ECWR), o problema é particularmente comum para mulheres com menos de 40 anos. A organização classifica esta proibição como uma forma de “tutela sobre as mulheres”, porém sublinha que esta prática discriminatória viola a constituição egípcia.

O facto das mulheres não poderem reservar quartos de hóteis condiciona várias circunstâncias das duas vidas e, em alguns casos, pode mesmo prejudicá-las.

“Do ponto de vista da carreira, as mulheres correm o risco de não serem promovidas porque não podem ficar em hotéis sozinhas quando estão em viagens de negócios ”, realça a ECWR“.

Já no que diz respeito à vida pessoal, a organização lembra que também não são capazes de se resguardar nestes locais quando são, por exemplo, expostas a situações de violência doméstica.

O Egito ficou em 134º lugar entre 153 países no Índice Global de Diferenças de Género de 2020, publicado pelo Fórum Económico Mundial. O relatório entoou o problema ao realçar o fosso de direitos entre os dois sexos.

O documento frisou que as mulheres egípcias têm taxas de alfabetização e emprego significativamente mais baixas do que os seus colegas homens, e o seu direito à propriedade, capital e produtos financeiros é limitado por lei. Estão também expostas a altos índices de violência de género.

“Eu viajo sozinha com muita frequência, já fiquei em hotéis em Hurghada, Alexandria e na maioria das cidades turísticas ao redor do Egito, e nunca tive problemas. Mas uma vez, um pequeno hotel no Cairo recusou-se a deixar-me ficar lá, apesar de ter quartos disponíveis. Tentei outro hotel na mesma zona e também recusaram. Tive que dormir na casa de um amigo”, conta Salma, de 30 anos.

Tal como esta jovem, muitas mulheres revelam não ter conseguido reservar um quarto de hotel. Algumas delas foram alertadas pelos funcionários de que estavam apenas a cumprir ordens da polícia de turismo egípcia, que supostamente proíbe que os quartos sejam disponibilizados para pessoas que residam na mesma cidade.

“Não há base legal para essas ordens”, disse a advogada Heba Adel, chefe da Iniciativa de Advogados Egípcios pelos Direitos da Mulher, ao Vice.

A advogada explica que a regra não existe oficialmente, e que muitos hotéis estão simplesmente a recusar hóspedes do sexo feminino devido às suas próprias políticas privadas. “Exigimos que a polícia de turismo nos mostre essa lei, se ela realmente existe, para que possamos recorrer dela”, rematou.

Ana Isabel Moura, ZAP //



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