Apesar de ser uma aventura atrativa, os investigadores não aconselham que alguém se atreva a seguir a travessia. Tem 11 mil quilómetros e atravessa 15 países.
Aparentemente, nada parece ligar Quanzhou, um porto chinês, a Sagres, a vila portuguesa que se encontra no extremo sudoeste da Europa continental.
Mas as duas localidades têm algo em comum.
Não, não se trata da Nova Rota da Seda, a linha de comboio inaugurada em 2017 e que une a Europa à China. De facto, o elemento comum é tão inesperado que provavelmente surpreende a maioria dos habitantes de Sagres e Quanzhou.
Estas localidades são, na verdade, as pontas da maior linha reta terrestre que se pode traçar no planeta Terra.
De acordo com o Big Think, quem quisesse seguir tal traçado teria que renunciar ao conforto de estradas e atravessar montanhas agrestes e desertos inóspitos. A jornada implicaria atravessar qualquer coisa como 15 países.
Como consequência do facto de o globo ser (quase) esférico, e não plano como nos mapas, a sua representação gráfica aparece com curvas. No entanto, qualquer pessoa que percorresse a linha verificaria que esta é reta como uma régua, e que, no final dessa viagem, teria caminhado cerca de 11.241 km.
Rohan Chabukswar, investigador do United Technologies Research Centre (UTRC) em Cork (Irlanda) e Kushal Mukherjee, do Laboratório de Investigação da IBM em Nova Deli (Índia) foram os responsáveis pelo cálculo desta linha.
Num artigo científico, os dois investigadores expuseram a sua solução para a questão de encontrar as linhas retas mais longas do mundo — uma questão que, aparentemente, é simples, mas não é: “Este é um problema de otimização, tornado caótico pela presença de ilhas e lagos, e mesmo pela natureza fatal das costas”.
A pesquisa foi motivada por um mapa que suscitou muita discussão quando foi pela primeira vez publicado, na rede social Reddit, em 2012. A publicação pretendia mostrar a rota de navegação em linha reta mais longa possível no mundo: do Paquistão à península da Kamchatka, na Rússia.
Porém, desde então, os utilizadores têm-se manifestado a favor e contra as propostas de rota marítima e terrestre em linha reta mais longa.
Entre as rotas mais longas sugeridas, mas já refutadas, encontram-se duas versões náuticas: da Noruega à Antárctida — uma rota válida, mas não tão longa como a do Paquistão a Kamchatka; e do Quebeque à Colúmbia Britânica, que se revelou uma linha perfeitamente reta.
Sugeriu-se outra uma rota terrestre mais longa, que vai de Wenling na China até Greenville, na Libéria. Mas esta linha atravessa o Mar Morto e se, como dizem os autores, isso se qualifica como uma “grande massa de água”, desqualifica a rota como sendo inteiramente sobre terra.
Para colocarem os seus conhecimentos à prova, Chabukswar e Mukherjee decidiram transpor a questão para uma disputa científica.
Em vez de efetuarem uma pesquisa exaustiva de todas as vias possíveis — mais de 233 milhões de grandes círculos, como os autores sugerem — calcularam as duas vias usando o chamado algoritmo de ramificação e de ligação.
Aí descobriram que a publicação original no Reddit estava correta: o caminho mais longo em linha reta e navegável liga o Paquistão a Kamchatka.
Especificamente, liga Sonmiani, uma cidade costeira a aproximadamente 145 km a noroeste de Karachi, a uma localidade no distrito de Karaginsky, uma parte praticamente desabitada no norte da península de Kamchatka. O trajeto tem quase 32.090 km.
Os investigadores têm, ainda assim, algumas advertências teóricas sobre o seu resultado e a possibilidade de alguém o querer testar na prática: “O problema foi abordado como um exercício puramente matemático. Os autores não recomendam que se veleje ou conduza ao longo destas rotas”.