Austrália, Vietname e Coreia do Norte. O primeiro hotel flutuante do mundo está condenado ao fracasso

(dr) Hyundai Asan Corporation

O “primeiro hotel flutuante do mundo”

Abriu na Austrália sobretudo para os amantes de mergulho, mudou-se depois para o Vietname e acabou na Coreia do Norte. Seja qual for o destino, este hotel flutuante parece estar condenado ao fracasso.

Segundo conta a cadeia televisiva CNN, este resort de cinco estrelas, que na altura ficou conhecido como o primeiro hotel flutuante do mundo, começou por estar mesmo junto à Grande Barreira de Corais, no nordeste da Austrália. A ideia partiu de Doug Tarca, um mergulhador profissional e empresário italiano que vivia no país.

A construção do hotel começou em 1986, em Singapura, tendo sido depois transportado por um navio para John Brewer Reef, uma das zonas do Parque Marinho da Grande Barreira de Corais. O custo final? Cerca de 45 milhões de dólares naquela altura, o que equivale a mais de 100 milhões agora, ou seja, cerca de 87 milhões de euros.

Finalmente pronto, o Four Seasons Barrier Reef Resort foi inaugurado no dia 9 de março de 1988. Entre outras coisas, tinha 176 quartos, uma discoteca, dois restaurantes, um laboratório, uma biblioteca, uma loja onde se podia comprar equipamento de mergulho e até um campo de ténis. Para lá chegar, os hóspedes tinham de fazer uma viagem de duas horas de catamarã, ou então optar por uma viagem mais rápida de helicóptero.

Inicialmente, e talvez por ser um conceito totalmente novo, o hotel gerou bastante burburinho e era um sonho não só para os amantes de mergulho, mas também para as outras pessoas em geral, que podiam desfrutar de uma vista incrível do recife graças a um submarino chamado The Yellow Submarine.

No entanto, o encanto perdeu-se quando se perceberam as inconveniências geradas por um simples azar na meteorologia. Se estivesse mau tempo e os hóspedes tivessem de voltar à cidade para regressar a casa, acabavam por ficar lá retidos porque tanto o catamarã não conseguia navegar como o helicóptero não podia levantar.

Para não falar também dos enjoos provocados por um mar agitado. Conta-se até que os funcionários do hotel, que dormiam no último andar, penduraram uma garrafa de whisky vazia no teto para perceber com o que tinham de lidar: se balançasse de forma descontrolada, já sabiam que iria haver muitos clientes indispostos.

Entre outros problemas, e apenas um ano depois de ter aberto as suas portas, este Four Seasons acabou por fechar e foi vendido a uma empresa vietnamita na Cidade de Ho Chi Minh, que também queria atrair turistas. Então, em 1989, o hotel flutuante embarcou numa segunda viagem rumo ao Vietname e reabriu como Saigon Hotel, embora tenha ficado mais conhecido como “The Floater”.

Ao contrário da sua primeira experiência, e muito provavelmente por ter sido ancorado no rio Saigon junto à cidade, o hotel teve bastante mais sucesso e ainda se aguentou durante dez anos. Porém, em 1998, a gerência teve alguns problemas financeiros, levando ao seu encerramento.

Novamente houve um interessado em ficar com ele, mais concretamente a Coreia do Norte, que o viu como uma boa ideia para atrair turistas ao Monte Kumgang, perto da fronteira com a vizinha Coreia do Sul. Reabriu então em outubro do ano 2000, com o nome Hotel Haegumgang, e era gerido pela empresa sul-coreana Hyundai Asan.

De acordo com Park Sung-uk, porta-voz da empresa, a região atraiu ao longo dos anos mais de dois milhões de turistas e, mais importante do que isso, melhorou a relação entre os dois países e serviu como um ponto central para o intercâmbio inter-coreano.

Em 2008, porém, um soldado norte-coreano baleou e acabou por matar uma sul-coreana que tinha passado para além da área turística do Monte Kumgang e entrado numa zona militar. Com este incidente, a Hyundai Asan viu-se obrigada a suspender todas as excursões e o hotel fechou juntamente com tudo o resto, ficando ao abandono até hoje.

Em 2019, o líder norte-coreano Kim Jong-un visitou a região e criticou muitas das suas instalações turísticas por serem precárias, tendo ordenado a demolição de muitas delas, incluindo o Hotel Haegumgang, para reabilitar a área de acordo com um estilo mais adequado à cultura norte-coreana.

Entretanto, surgiu a pandemia da covid-19 e os seus planos tiveram de ser suspensos. Segundo a CNN, não se sabe ainda se é para ir para a frente com a demolição, ou se Kim já terá mudado de ideias.

ZAP //



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