A 17 de outubro de 2009, o Governo das Maldivas, um dos países mais ameaçados pela subida da água dos oceanos, reuniu-se no fundo do mar para alertar para os efeitos das alterações climáticas.
Dez anos depois, o Presidente que promoveu o encontro está frustrado com a falta de ação e cansado da “linguagem jurássica” usada para defender o planeta
Há exatamente dez anos, o então Presidente das Maldivas, Mohamed Nasheed, promoveu um conselho de ministros original. A cinco metros de profundidade, de máscara posta e comunicando por gestos, o Presidente, 14 ministros e o Procurador-Geral do país assinaram um “SOS desde a linha da frente” para enviar às Nações Unidas.
“As alterações climáticas estão a acontecer e ameaçam os direitos e a segurança de toda a gente na Terra”, defenderam, de acordo com o Expresso. “Temos de nos unir num esforço mundial para parar mais aumentos de temperatura.”
A iniciativa foi um alerta para o mundo e um pedido de ajuda: a manter-se o aquecimento global e o consequente degelo dos graciares, as Maldivas — cujo ponto mais alto é inferior a dois metros — vão afundar-se no meio do oceano.
Em 2008, quando se tornou o primeiro Presidente democraticamente eleito — derrotando Maumoon Abdul Gayoom, que levava 30 anos na liderança do país —, Mohamed Nasheed comprometeu-se a tornar as Maldivas num exemplo a seguir em matéria de preservação ambiental.
Em 2012, foi afastado do poder. Acusado de traição, foi preso e julgado sem direito a testemunhas de defesa. Condenado a 13 anos de prisão, ficou impossibilitado de se recandidatar à presidência durante 16. Autorizado a sair do país para ser submetido a uma cirurgia, obteve asilo no Reino Unido, em 2016.
Em dezembro do ano passado, o ex-Presidente retomou o combate pelo futuro das Maldivas convidado pelo atual chefe de Estado, Ibrahim Mohamed Solih, para liderar a delegação nacional à Conferência de Katowice sobre as alterações climáticas. Para Nasheed, foi frustrante.
“Quase dez anos passaram desde que eu estive pela última vez nestas negociações climáticas, e devo dizer que nada parece ter mudado muito. Continuamos a usar a mesma linguagem jurássica de sempre”, denunciou. “As emissões de dióxido de carbono aumentam, aumentam, aumentam e tudo o que parece que fazemos é falar, falar, falar. E continuamos a fazer as mesmas observações entediantes.”