Iniciativa de um grupo de cidadãos visa proibir a circulação de carros numa área considerável da capital alemã, de forma a promover e a privilegiar o uso de meios mais ecológicos.
Um grupo de cidadãos habitantes da cidade de Berlim está a lutar para criar a maior zona do mundo em que o grupo de carro particular é proibido. Juntos criaram a Berlin Autofrei, uma campanha responsável pela submissão de uma petição com mais de 50 mil assinaturas e que visa banir os automóveis numa área de 88 quilómetros quadrados, a qual é circulada pela linha ferroviária S-Bahn.
As únicas exceções seriam as pessoas que dependem dos seus carros para a sua atividade económica ou com mobilidade reduzida, mas também os veículos de emergência. A todos os que não se incluem nestes grupos são lhes permitidas 12 viagens em carros alugados por ano — na eventualidade de terem que se deslocar de autocarro.
Perante este desejo dos habitantes berlinenses em implementar uma medida que proíbe a circulação de carros, uma pergunta impera: o que há de errado com os veículos elétricos?
“Seriam preciso que quase metade dos carros se tornassem elétricos para que conseguíssemos atingir as metas definidas pelo Governo federal no que respeita às emissões resultantes dos transportes”, explicou Nik Kaestner, integrante do movimento.
“Isso claramente não vai acontecer — atualmente apenas 1,3% dos veículos são elétricos. Pelo que a única solução é a redução da quantidade de veículos, não se trata da mudança do que conduzimos.”
Manuel Wiemann, porta-voz da iniciativa, notou ainda que os carros também poluem, por exemplo, através dos pneus, ocupando demasiado espaço comum e desnecessário na ameaça às vidas humanas, sejam eles elétricos ou diesel. Em 2014, um relatório financiado pelo parlamento de Berlim concluiu que 58% do trânsito existente na cidade provinha dos carros, apesar de apenas um terço das viagens feitas em Berlim serem feitas de carro — ao passo que as bicicletas contribuem com 3%, configurando 15% das viagens feitas.
No que concerne aos veículos estacionados, estes ocupam cerca de 17 quilómetros quadrados no centro da cidade, ou seja, os carros ocupam vinte vezes mais espaço do que as bicicletas numa das cidades europeias que mas promove esta forma deslocação. Paralelamente, três quartos das mortes registadas na estradas berlinenses são de pedestres ou ciclistas.
“Isto é tanto sobre o nosso ambiente imediato como é sobre o nosso ambiente de uma forma geral. É sobre como todos nós queremos viver, respirar e usufruir juntos. Nós queremos que as pessoas sejam capazes de dormir com as janelas abertas e que as crianças possam brincar nas ruas novamente. E os avós deveriam poder andar de bicicleta de forma segura e parar nos bancos para descansar”, explicou Nina Noblé, uma das criadoras da iniciativa.
Apesar de ao longo dos anos muitas das campanhas criadas para reduzir a utilização do carro — as quais não tiveram os resultados —, a Berlin Autofrei pode ser diferente. Os seus promotores estão a apostar numa forma de democracia direta que está prevista na maioria das Constituições: o referendo — à semelhança do que aconteceu simultaneamente às últimas eleições federais, quando os berlinenses aprovaram a expropriação de grandes proprietários para limitar os preços da habitação.
No primeiro passo de um processo de três fases, o grupo deve recolher, durante um período de tempo definido, assinaturas de 20 mil cidadãos a favor da medida. No seguinte, 170 mil assinaturas devem ser recolhidas. Caso o governo se recuse a implementar a medida, a questão é submetida a votação pública. Tendo em consideração que o movimento conseguiu, na primeira fase, 50,333 assinaturas, os seus integrantes estão confiantes.
“O ministro do Ambiente fez um estudo recentemente que concluiu que 91% das pessoas seriam mais felizes sem carro. No entanto, apenas um terço dos berlinenses têm um carro”, explicou Kaestner. Isto, naturalmente, não quer dizer que eles sejam automaticamente a favor. Se a medida for sujeita a votação, teremos que motivar as bases, como acontece em todas as outras eleições renhidas.
No passado, as outras iniciativas populares do género nunca foram votadas pelo público, já que o Governo da cidade as adotou após a segunda fase. Com a atual medida pode acontecer o mesmo, já que os Verdes a terem um papel significativo na próxima coligação que governará a cidade depois de ter aumentado a sua votação para 18,9% nas últimas eleições.