Numa iniciativa pioneira, uma equipa de engenheiros iniciou a construção da primeira ponte do mundo sobre um glaciar rochoso em movimento, no Parque Nacional de Denali, no Alasca.
É a primeira ponte do mundo sobre terras em movimento, e vai ser construída no Pretty Rocks Landslide, uma área de deslizamento de terra localizada na estrada do Parque Nacional de Denali, no Alasca, Estados Unidos.
O local é conhecido por ter um terreno instável e em constante movimento, o que leva a desafios na manutenção da estrada que o atravessa e na segurança dos visitantes e trabalhadores do parque.
As terras estão a afundar-se alguns centímetros por ano, desde os anos 1960, originando pequenas fissuras na estrada.
No entanto, o derretimento do permafrost acelerou os deslizamentos de terras e o afundamento da estrada, que está a abater vários metros por ano desde 2014 — provocando o seu encerramento frequente e causando impacto no turismo e atividades científicas no parque.
A estrada principal do parque foi inicialmente escavada na década de 1920, na encosta íngreme, 120 metros acima do vale, sem se saber na altura que sob a estrada havia permafrost — que está agora a descongelar devido às alterações climáticas.
O solo sob a estrada é tecnicamente classificado como um glaciar rochoso — uma mistura de rochas e gelo. A proeza de engenharia visa garantir acesso estável e ininterrupto à metade ocidental do parque.
Ryan Anderson, comissário do Departamento de Transportes e Instalações Públicas do Alasca, explica à New Scientist que este tipo de solução de engenharia complexa se tornará cada vez mais comum à medida que o estado enfrenta o seu crescente problema de permafrost.
Para contrariar o derretimento do permafrost, os engenheiros vão utilizar 23 termossifões — tubos selados a vácuo preenchidos com dióxido de carbono líquido — para ajudar a manter a vida útil da ponte, estimada em 50 anos.
Durante o inverno, os tubos irão absorver o calor latente do solo e libertá-lo para a atmosfera, ajudando a manter o solo congelado.
A ponte, que terá um vão de 145 metros, deveria estar concluída até 2025. No entanto, requisitos adicionais adiaram a data de conclusão para 2026, inflacionando o orçamento inicial de 120 milhões de dólares em mais 30 milhões.
O projeto gerou alguma controvérsia, uma vez que as autoridades do Alasca têm tido dificuldades em alocar fundos de apoio às 73 aldeias indígenas que necessitam de reconstruir infraestruturas ou ser realojadas, devido ao descongelamento, erosão e inundações induzidas pelo clima.
Críticos como Louise Farquharson, investigadora na Universidade do Alasca, em Fairbanks, consideram que é uma “ideia ridícula” gastar este montante quando a profundidade e a velocidade do descongelamento não podem ser previstas com exatidão.
No entanto, o Parque de Denali continua a ser uma atração turística crucial para o Alasca, gerando até 600 milhões de dólares anualmente em receitas para o estado.
A maioria dos turistas chegam ao parque através desta mesma estrada, tornando a sua reparação e manutenção uma empreitada crítica para a indústria turística do estado.