A Aldeia do Barbelote, em Monchique, com apenas um habitante, encontra-se à venda por 790 mil euros, depois de ter sido comprada em 2003 por um grupo de amigos que pretendia ali instalar um projecto de turismo rural.
“Em 2006, as condições económicas alteraram-se com a crise económica, e deixámos de ter capacidade financeira para concretizar o projecto de turismo de aldeia que, entretanto, ficou suspenso”, lamentou José Martins, um dos cinco proprietários do Barbelote, no concelho de Monchique.
Sem capacidade económica para fazer avançar o projecto, estimado em mais de um milhão de euros, os proprietários decidiram colocar o local à venda “com muita pena”.
Composta por 13 casas típicas algarvias, a maioria das quais em situação de ruína, a aldeia era propriedade de seis pessoas, integrando-se numa área florestal com cerca de 10 hectares, na encosta poente da Fóia, o ponto mais alto do Algarve.
“A intenção passava por recuperar as casas, mantendo as suas características originais, o património envolvente, reavivar usos e costumes das gentes locais, valorizando ao mesmo tempo o espaço com equipamentos comunitários”, indicou José Martins, recordando a ligação familiar que mantém à aldeia, que chegou a ser habitada por mais de cem pessoas na década de 60 do século XX.
“Os meus avós ainda cá viveram, mas, ano após ano, foi ficando ao abandono”, sublinhou, indicando que “os fracos rendimentos da actividade agrícola, meio de sobrevivência das pessoas, levou-as a procurar melhores condições nos meios urbanos”.
Apesar do êxodo, Marcelino Vicente, de 70 anos, reformado, mantém-se na aldeia, e é hoje o único morador do Barbelote. Vendeu as propriedades, mas os proprietários deixaram-no ficar na casa que habita há mais de 50 anos.
“Deixaram-me ficar cá a morar, mas agora estou é desejando de ir embora daqui para fora”, referiu à Lusa, apontando falta de estradas e transportes regulares para a vila de Monchique como factores desmotivadores para a sua permanência na aldeia.
“Eu só podia gostar disto se passasse aqui uma estrada boa e se tivesse via daqui para Monchique. Mas ter de pagar táxi é muito gasto por mês”, referiu Marcelino Vicente, indicando que a venda da aldeia não o deixa preocupado.
Por seu turno, o presidente da Câmara de Monchique, Rui André, lamentou o abandono a que estão condenadas várias aldeias devido ao despovoamento do Interior, mas acredita que “alguns locais possam atrair investidores interessados em recuperar e potenciar aldeias como pólos de atracção turística”.
“As pessoas gostam de conhecer a autenticidade destes locais e estas aldeias podem resultar numa oportunidade de negócio para promotores que tenham a sensibilidade para este tipo de negócio, quer na recuperação do edificado, quer na vivência do ambiente de aldeia”, frisou.
Para Rui André, o turismo rural é um produto que necessita de ser dinamizado, porque constitui uma mais-valia para o concelho e para a região do Algarve e é um complemento à oferta de sol e praia.
“O município tem apoiado este tipo de projectos através da criação de infra-estruturas e de outros incentivos”, concluiu.
A aldeia do Barbelote destaca-se de outras aldeias existentes no concelho pelas suas características e posição geográfica, já que se insere na Fóia, uma das zonas do concelho mais procuradas por visitantes nacionais e estrangeiros, com terrenos atravessados por ribeiras, com várias nascentes de água e uma cascata natural.
/Lusa