No passado fim de semana, milhares de pessoas indignadas saíram à rua em Barcelona para participar num protesto contra o turismo de massas na cidade espanhola. A sua arma de eleição? Pistolas de água.
Milhares de pessoas manifestaram-se este sábado em Barcelona contra o turismo excessivo na capital catalã, que recebe anualmente milhões de visitantes, numa demonstração da revolta crescente em Espanha, segundo destino turístico no mundo.
Atrás de faixas onde se lia “reduzam o turismo agora!”, milhares de manifestantes desfilaram entoando palavras de ordem como “turistas fora dos nossos bairros” e pararam em frente a alguns hotéis.
Para surpresa de muitos dos turistas que se encontravam na cidade na altura, alguns dos manifestantes passaram das palavras aos atos e deram forma a um novo tipo de protesto: o tiro ao turista.
Vídeos publicados durante o fim de semana nas redes sociais mostram os manifestantes a atirar água de pistolas coloridas aos viajantes que estavam a jantar em Las Ramblas, zona muito frequentada por turistas.
Enquanto os turistas encharcados se afastavam desajeitadamente, os catalães eram vistos a gritar “turistas vão para casa” e a usar fitas vermelhas para isolar as entradas dos hotéis e restaurantes. Outros manifestantes exibiam cartazes que diziam “o turismo mata a cidade”.
As cenas faziam parte de uma ação de protesto mais alargada que contou com cerca de 2800 pessoas que pediram limites ao turismo na sua cidade natal, de acordo com os números da polícia. Mas, segundo The Telegraph, os organizadores alegam que participaram sete vezes mais pessoas.
Os críticos do turismo excessivo denunciam principalmente o seu efeito nos preços da habitação — as rendas aumentaram 68% na última década, segundo a câmara de Barcelona — mas também as consequências nefastas do turismo no comércio local, no ambiente e condições de trabalho dos trabalhadores locais.
No sábado, Jaume Collboni, o presidente da câmara de Barcelona, renovou o seu “firme compromisso” de eliminar o arrendamento de curta duração ao estilo da Airbnb na cidade no prazo de cinco anos.
Numa publicação na plataforma de media social X, Collboni disse que um novo plano de habitação irá retirar mais de 10.000 propriedades do uso turístico para serem devolvidas aos residentes, e acabar com o alojamento local até 2028.
#World #News Angry Catalans fire water guns at Barcelona visitors in protest against mass tourism https://t.co/w8kj56T1DF
— Solomon Phoenix (@beingapaqo) July 7, 2024
Collboni acrescentou ainda que a sobretaxa do imposto turístico será aumentada de 3,25 euros para 4 euros por noite, enquanto algumas receitas turísticas serão utilizadas para investir em projetos locais.
Segundo a Time, Barcelona arrecada cerca de 95 milhões de euros em impostos sobre o turismo por ano, mas as despesas totais com o turismo, incluindo custos de limpeza, segurança e transporte, ascendem a 142 milhões de euros .
Espanha recebeu cerca de 85,1 milhões de visitantes internacionais ao longo de 2023, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, sendo que 15,6 milhões visitaram especificamente Barcelona. Mas a capital catalã não é o único local onde os espanhóis estão a lutar contra o turismo excessivo.
Em abril, dezenas de milhares de pessoas participaram nas maiores manifestações contra o turismo nas Ilhas Canárias, e em maio, cerca de 10.000 pessoas participaram em manifestações semelhantes na ilha espanhola de Maiorca, para protestar contra a falta de habitação a preços acessíveis causada pelo aumento do turismo.
Em junho, os habitantes locais ocuparam a praia de Calo des Moro, em Maiorca, para a proteger dos turistas. Cerca de 300 pessoas empunhavam cartazes com os dizeres “SOS moradores“, enquanto alguns participantes distribuíam panfletos aos turistas britânicos e alemães.
No mês passado, mais 15 000 pessoas em Málaga – um destino de férias espanhol muito popular, especialmente entre os viajantes britânicos e franceses – fizeram uma marcha contra o elevado volume de turistas.
A cidade, situada nas proximidades das estâncias da Costa del Sol, deu origem a uma rápida gentrificação, fazendo disparar os preços das habitações e multiplicando os alugueres de curta duração.
Atualmente, há mais de 400.000 arrendamentos de curta duração em Espanha, segundo dados da AirDNA, empresa de serviços de informação. Mas o governo espanhol diz estar a considerar a possibilidade de proibir a nível nacional o arrendamento turístico em edifícios residenciais.
Espanha não é o único país cansado dos turistas. De limitações à construção de novos hotéis, sobretaxas sobre dormidas, à proibição de álcool… e até gelados, o mundo parece estar farto dos turistas.
Mas nem todos estão fartos de os ver.