O número de viagens realizadas em todo o mundo caiu drasticamente por causa da pandemia, fazendo uma “vítimas” inesperada: a previsões do tempo.
Desde que a pandemia de covid-19 se começou a alastrar pelo globo, milhões de pessoas viram-se obrigadas a confinar ou a reduzir os seus contactos pessoais para evitar contrair ou propagar a doença, que nasceu em dezembro passado na China.
Viajar tornou-se numa atividade não essencial. Por isso, milhares de voos e trajetos habitualmente percorridos por navios foram cortados à escala global, tendo havido mesmo empresas que suspenderam toda a sua atividade durante algumas semanas.
Neste efeito dominó, ficaram também afetadas as previsões do tempo e a própria agricultura, consequências menos óbvias fruto da pandemia.
Isto acontece porque, em tempos normais, muitos dos milhares de aviões e navios que cruzam o planeta a transportar pessoas e/ou cargas estão equipados com instrumentos sensíveis capazes de recolher uma série de informações com valor científico sobre o ambiente, explica o portal Scientific American.
Temperatura do ar e do oceano, velocidade do vento e humidade do ar são alguns dos parâmetros que estes meios de transporte ajudam normalmente a recolher e que posteriormente são utilizados pelos cientistas para realizar previsões meteorológicas e projeções climáticas em todo o mundo.
Face à abrupta queda nas viagens mundiais, os especialistas mostram-se preocupados, defendendo que a diminuição no número de viagens está a afetar as suas previsões.
Um estudo científico, publicado recentemente na revista científica especializada Geophysical Research Letters, sugere que o declínio mundial de voos teve um preço: as previsões do tempo tornaram-se menos precisas e as viagens foram um fator importante.
O principal autor do estudo, Ying Chen, da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, defende que não se trata apenas da inconveniência de ter previsões menos exatas.
Muitos agricultores, por exemplo, dependem destas mesmas previsões para proteger as suas plantações. Da mesma forma, há várias empresas de serviços públicos que estimam a quantidade de energia que será consumida num determinado dia com base em previsões de temperatura. Numa onda de calor, a procura por eletricidade tende a subir à medida que as pessoas utilizam os seus aparelhos de ar condicionado.
Se as empresas não conseguirem equilibrar com precisão a energia gerada face à energia consumida, esta situação “pode afetar a estabilidade da rede elétrica“, exemplificou o cientista da universidade britânica, citado pelo Scientific American.
O mesmo parece ter sido registado no mar: uma investigação recente do Global Ocean Observing System, uma iniciativa de monitorização oceânica das Nações Unidas, sugere que vários programas de observação oceânica foram afetados durante a pandemia.