De comboio desde Lisboa a Nova Iorque? O plano louco que passa pela Sibéria e pelo Alasca

ZAP // InterContinental Railway

Mapa de ligação ferroviária Paris – Nova Iorque proposto pela InterContinental Railway

E se houvesse um Comboio InterContinental, que o levasse de Lisboa a Nova Iorque, passando pela Sibéria e pelo Alasca? Engenheiros e empresários acreditam que um dia se pode tornar realidade.

A ideia de criar um InterContinental Railway (ICR)  é anterior à Guerra na Ucrânia e consequente isolamento geopolítico da Rússia da Europa e da América do Norte. Naturalmente, estas circunstâncias teriam de mudar para que o plano fosse considerado por todas as partes envolvidas.

Mas este “plano louco” talvez não o seja assim tanto — e a China tem até o seu próprio projeto de uma linha férrea subaquática para ligar o país aos Estados Unidos.

Segundo o Big Think, o ICR precisaria antes de mais de cerca de 8.850 km de uma ferrovia inteiramente nova desde Yakutsk, na Sibéria oriental, até Forte Nelson, no noroeste do Canadá — incluindo uma travessia do Estreito de Bering.

Atravessar este estreito, que separa a Rússia do Alaska, implicaria a construção do túnel ferroviário mais longo do mundo, com 113 km de extensão.

Adicionar esta nova linha às ligações ferroviárias existentes iria criar uma ligação terrestre entre a Eurásia (massa que forma o conjunto da Europa e da Ásia) e o Novo Mundo pela primeira vez em cerca de 12.000 anos.

É mais do dobro do comprimento do Túnel Seikan, que liga as ilhas japonesas de Honshu e Hokkaido, que é atualmente o túnel ferroviário subaquático mais longo do mundo — com 54 km de extensão.

Teria também de ser construído em condições adversas, uma vez que os trabalhos no clima agreste próximo do Ártico só podem ter lugar durante os quatro meses de tempo mais quente e quase todos os materiais ou pessoas que fossem enviados para escavar o túnel teriam de vir de muito longe.

Em contrapartida, os promotores dizem que a geologia local significa que este túnel fosse “mais fácil de construir do que o Túnel do Canal da Mancha“.

Além disso, os poços de ventilação necessários para um túnel deste comprimento poderiam ser facilmente colocados nas ilhas Diomede, localizadas quase exatamente a meio caminho do Estreito de Bering.

InterContinental Railway

Plano do hipotético túnel a ligar Uelen, na Rússia, a Wales, no Alaska

Estima-se que a realização deste projeto acarretasse um custo de 100 mil milhões de dólares, ainda assim é “menos do que o investimento na Estação Espacial Internacional temporária”.

Além disso, esse “custo pode ser distribuído ao longo da vida útil, de 100 a 200 anos, dos ativos da infraestrutura”.

O ICR “criaria uma oportunidade de cooperação pacífica entre os EUA, Canadá, Rússia e China” e “estimularia a atividade económica global ao longos dos próximos 100 a 200 anos”.

Esta linha férrea poderia transportar anualmente até 100 milhões de toneladas brutas de mercadorias através do Estreito de Bering — o que equivale a cerca de 3% do comércio mundial — e poderia fazê-lo em menos de metade do tempo, com poupança de custos, e eliminando duas transferências portuárias para as mercadorias envolvidas.

InterContinental Railway

Conceito artístico da entrada do túnel do InterContinental Railway em Wales, no Alaska

A construção do ICR estimularia o comércio entre o Canadá e os EUA de um lado e a Rússia, a China e a Europa do outro, integrar mercados como o México e as Coreias, e eliminaria muitas das emissões de CO2 provenientes do transporte marítimo.

Uma das dificuldades a superar, na era dos mísseis intercontinentais hipersónicos é de natureza geopolítica: a ferrovia russa funciona numa linha mais larga (1520 mm) do que as homólogas ocidentais, que usam a linha padrão (1435 mm) — uma diferença que se destina a dificultar qualquer invasão da Rússia por via férrea.

É assim pouco provável que este “plano louco” aconteça na realidade, pelo menos num futuro próximo. Mas não é impossível que um dia destes possa apanhar o comboio em Santa Apolónia e apear-se no Grand Central Terminal de Nova Iorque — um dos edifícios mais icónicos e principais atrações turísticas da cidade.

Teresa Campos, ZAP //



DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here