A galinha dos ovos de ouro tornou-se um problema. E agora, o que fazer?

Estela Silva / Lusa

Casal de turistas observa a montra da Porto Gift, uma das muitas lojas de lembranças que surgiram no Porto com o aumento de visitantes

O excesso de turistas está a perturbar a vida de muitos portugueses que estão cada vez mais fartos do turismo. Mas como é que se pode resolver o problema?

O turismo é uma actividade económica essencial para um país como Portugal – e muitas vezes, se tem dito que é a “galinha dos ovos de ouro“.

Em 2023, Portugal teve o melhor ano da sua história no que se refere ao turismo, com um crescimento de 18,5% em relação a 2022, e de 37% face a 2019. O fluxo de visitantes garantiu receitas de 25.000 milhões de euros.

Mas o turismo de massas acaba por diminuir a qualidade de vida dos residentes, e também afecta a experiência dos visitantes.

Isto porque o excesso de turistas contribui para a degradação de locais históricos, o entupimento dos transportes públicos, mais poluição, aumento de preços e redução da oferta de habitações para os residentes.

Deste modo, várias cidades europeias já estão em guerra ao turismo de massas, tomando medidas como a proibição de novos hotéis ou de novos alojamentos locais.

Mas também há medidas como a limitação diária do número de turistas e a aplicação de taxas.

“Isto tornou-se numa confusão”

Portugal tem resistido à aplicação de medidas para controlar o turismo, mas há cada vez mais portugueses a pedirem para que sejam implementadas.

“Nos últimos cinco, seis anos, isto tornou-se numa confusão“, queixa-se à Euronews a moradora do bairro da Graça, em Lisboa, Rosa Alves, de 78 anos. “Em toda a Graça, houve uma mudança séria para pior e não para melhor”, lamenta esta residente na capital.

Já a activista pelo turismo sustentável Madalena Martins, residente em Sintra, refere à Euronews que o objetivo não é “hostilizar os turistas”. “Queremos que os turistas se tornem nossos aliados e que percebam que há aqui um problema“, considera.

O vice-presidente da Câmara de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia, fala à Euronews da possibilidade de limitar a quantidade de tuk-tuk que circulam em Lisboa como uma solução para resolver os problemas de trânsito, realçando que permitiria conciliar os interesses dos turistas com “os interesses de uma cidade onde as pessoas vivem e precisam de viver, com equilíbrio, paz, qualidade de vida”.

Excesso de turistas nota-se mais em Lisboa e Algarve

Só em Junho deste ano, Portugal recebeu três milhões de turistas, um aumento de 6,7% em relação a Maio, de acordo com dados citados pela Euronews.

A sobrecarga turística sente-se, sobretudo, em Lisboa e no Algarve que revelam níveis semelhantes, ou mesmo acima, dos que se verificam em cidades como Barcelona (Espanha) ou Amesterdão (Holanda), onde já estão a ser aplicadas medidas para limitar a entrada de turistas.

Em 2023, registaram-se cerca de 6,46 milhões de hóspedes em Lisboa, e mais de 5,12 milhões no Algarve, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) citados pelo Público.

São “quase 12 hóspedes por habitante (considerando os censos de 2021) e perto de 65 mil turistas por quilómetro quadrado” em Lisboa, e “11 hóspedes por habitante e 1025 hóspedes por quilómetro quadrado” no Algarve, aponta ainda o mesmo jornal.

Em comparação, em Amesterdão, em 2023, registaram-se “dez hóspedes por habitante e 48,8 mil turistas por quilómetro quadrado” e em Barcelona, houve “mais de nove hóspedes por habitante e 153 mil turistas por quilómetro quadrado”, de acordo com a mesma fonte.

Perante o problema do turismo de massas, Barcelona já se comprometeu a acabar com o alojamento local até 2028.

Ora, segundo dados do Registo Nacional de Turismo (RNT), Lisboa e o Algarve têm mais alojamentos locais registados, em comparação com as casas existentes, do que Barcelona.

Na capital portuguesa, “há 19.200 alojamentos locais registados na cidade de Lisboa e outros 44.415 na região do Algarve”, refere o Público citando o RNT. Isto significa que “por cada 100 casas, haverá em torno de seis alojamentos locais na capital portuguesa e 11 no Algarve”, constata o diário.

“Em Barcelona, contam-se 1,5 alojamentos locais por cada 100 casas” e “em Amesterdão, o número é ainda mais baixo, de cerca de 1,2 alojamentos locais por cada 100 casas”, conclui o mesmo jornal.

ZAP //



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