Prevê-se que a primeira instalação funerária de compostagem humana do mundo abra na primavera de 2021, depois de os legisladores do Estado de Washington terem legalizado o processo póstumo no início do ano.
A empresa Recompose, de Seattle, será a primeira a oferecer “redução orgânica natural”, um processo que a proprietária Katrina Spade disse que converte suavemente restos humanos em solo orgânico.
“A transformação do ser humano em solo acontece dentro dos nossos vasos de recomposição hexagonais reutilizáveis. Quando o processo terminar, as famílias poderão levar para casa parte do solo criado, enquanto os jardins no local nos lembrarão que toda a vida está interconectada”, escreve Recompose no seu site.
A funerária da nova era celebrou a abertura da sua primeira locação num edifício de 1.720 metros quadrados o mês passado, depois de os legisladores mudaram a lei estadual sobre os serviços pós-morte, tornando o Estado de Washington o primeiro a permitir a compostagem humana, de acordo com o jornal norte-americano The Seattle Times.
O SB 5001 “Relativo a restos humanos” foi assinado em maio, reconhecendo a “redução orgânica natural” como um meio aceitável de disposição dos corpos. A lei entrará em vigor a 1 de maio do próximo ano.
O processo de recomposição custará mais do que uma cremação básica, mas menos do que a maioria dos funerais – cerca de 5.500 dólares (equivalente a 4900 euros). O preço inclui transporte para os habitantes de Washington, mas a recomposição também estará disponível para indivíduos de outros estados ou países que puderem providenciar transporte.
Spade uniu-se à cientista do solo Lynne Carpenter-Boggs, da Washington State University, que liderou a primeira experiência de recomposição bem-sucedida, usando os restos de seis corpos voluntários no que chamaram de “Avaliação do Ciclo de Vida”, que comparou métodos convencionais contra enterro natural e redução orgânica.
Os resultados preliminares sugerem que a recomposição teve menos impacto ambiental do que a cremação ou enterros tradicionais, em grande parte devido à sua capacidade de sequestrar o carbono atmosférico no solo.
As estimativas sugerem que uma tonelada métrica de dióxido de carbono será salva sempre que uma pessoa for organicamente decomposta em vez de cremada ou enterrada. Além disso, a Recompose diz que “minimizam o desperdício, evitam poluir as águas subterrâneas com o fluido de embalsamamento e evitam que as emissões de dióxido de carbono da cremação e da fabricação de caixões, lápides e túmulos”.
“Ao permitir que processos orgânicos transformem os nossos corpos e os dos nossos entes queridos numa alteração útil no solo, ajudamos a fortalecer o nosso relacionamento com os ciclos naturais, enriquecendo a terra”, observa a Recompose.
Assim, um corpo é colocado dentro de um vaso reutilizável, coberto com lascas de madeira, alfafa e feno e arejado para permitir que bactérias benéficas que ocorrem naturalmente façam o que naturalmente fazem.
A empresa não sabe que espécies de bactérias participam no processo, apenas que ocorrem naturalmente no corpo. Além disso, não há evidências suficientes que sugiram que o processo interrompa a doença do Prião ou algumas doenças altamente infeciosas como o Ébola. “No caso raro dessas doenças, o paciente não seria candidato à recomposição. A elegibilidade para esse processo seria verificada pelos profissionais de saúde no local da morte da pessoa”, explicou um porta-voz do Recompose, em declarações ao IFLScience.
Em apenas 30 dias, o corpo é transformado em “solo que pode ser usado para criar nova vida”. Uma pessoa pode criar um solo com cerca de 0.76 metros cúbicos, que a sua família pode levar para casa. O solo restante irá para áreas de conservação na área de Seattle.