Há uma cidade onde é proibido morrer

Longyearbyen, capital do arquipélago de Svalbard, na Noruega, deu o passo muito incomum de proibir a morte naquela região.

Desde 1950, ninguém está legalmente autorizado a morrer na cidade. Até uma pessoa que lá tenha vivido a vida toda, se for um doente terminal, terá de se mudar para fora da ilha, onde viverá o resto dos seus dias. Se a morte for súbita, o corpo terá de ser enterrado noutro local.

A cidade tomou esta decisão para proteger os seus cidadãos. Em 1950, foi descoberto que os corpos que estavam enterrados no cemitério local não se estavam a decompor devido ao permafrost – “pergelissolo”, em português, que é um tipo de solo encontrado na região do Ártico.

Este solo constituído por terra, gelo e rochas permanentemente congelados. A camada é recoberta por uma camada de gelo e neve que, se no inverno chega a atingir 300 metros de profundidade em alguns locais, ao derreter-se no verão, reduz-se para de 0,5 a 2 metros, tornando a superfície do solo pantanosa, uma vez que as águas não são absorvidas pelo solo congelado.

Como os corpos não se estavam a decompor, vírus mortais dentro dos corpos poderiam manter-se vivos e, possivelmente, voltar a infetar a população viva quando o permafrost descongelasse.

Em agosto de 2016, houve um surto de antraz – infeção causada pela bactéria Bacillus anthracis – no norte da Sibéria, no qual um menino morreu e 90 outras pessoas foram hospitalizadas. Além disso, 2.300 renas morreram por causa da doença.

O surto mais recente antes disso ocorreu em 1941. O surto de 2016 ocorreu durante uma onda de calor na região, levando as autoridades a concluir que uma rena morta por antraz tinha descongelado, fazendo com que o vírus fosse libertado para o meio ambiente.

Em 1950, as autoridades de Longyearbyen estavam preocupadas que algo semelhante pudesse acontecer com bactérias e vírus escondidos nos moradores do seu cemitério.

Recentemente, amostras da gripe espanhola foram encontradas nos pulmões de vítimas da doença que tinham sido preservadas no permafrost do Alaska desde 1918. Também foram encontrados vestígios em Longyearbyen, de uma pessoa que morreu durante o surto de 1917.

Embora seja improvável que o descongelamento dos corpos em Longyearbyen causasse um surto de gripe espanhola, em 1998, uma equipa de cientistas que estudam o vírus tomou precauções extras. Ao extrair amostras das sepulturas, usaram trajes espaciais modificados e asseguraram que o tecido não descongelasse antes de chegar a uma instalação especializada nos EUA.

Não é claro quão grande é o risco de vírus e bactérias em cadáveres representam para residentes vivos mas, em 1950, a cidade decidiu ficar do lado da cautela e proibir a morte na cidade.

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