Quase 10 anos depois, avião de Gaddafi continua parado num aeródromo em França

Quase uma década depois de ter aterrado em solo francês, o avião presidencial do ex-ditador líbio continua parado num aeródromo no sul do país, estando no meio de vários processos judiciais que parecem não ter fim.

Em agosto de 2011, as imagens captadas no Aeroporto Internacional de Trípoli, na Líbia, tornaram-se prova da queda do regime de Muammar al-Gaddafi, ditador que governou o país durante mais de 40 anos.

Além de capturarem o próprio Gaddafi, que acabaria por ser morto em outubro desse mesmo ano, as forças opositoras assumiram o controlo do aeroporto e ainda conquistaram um “prémio”, um dos maiores símbolos de poder do ditador.

Estamos a falar do seu avião presidencial, o Airbus A340-200 que, embora do lado de fora se parecesse com mais um avião da companhia aérea líbia Afriqiyah Airways, no seu interior possuía, entre outros luxos, uma banheira de hidromassagem e até um cinema.

Tal como recorda a CNN, as novas autoridades do país viram-se a braços com um dilema: qual o destino a dar a esta luxuosa aeronave que, no fundo, representava tão intimamente os excessos do falecido ditador.

Foi então que, em 2012, o avião voou para as instalações da EAS Industries (atual Sabena Technics), uma empresa de manutenção de aeronaves subcontratada pela Air France, sediada no sul de França. A aeronave foi reparada e, um ano depois, estava pronta para ser usada novamente, tendo ficado na posse do Governo líbio para uso próprio.

De acordo com a mesma cadeia televisiva, acabou por ser uma viagem curta. Em março de 2014, e com a situação do país a deteriorar-se novamente, o avião voltou a solo francês. Mas, desta vez, a sua chegada marcou o início de um imbróglio judicial internacional que o mantém parado até hoje, sete anos depois.

O Airbus A340 foi comprado por Gaddafi, em 2006, por cerca de 100 milhões de euros. No mesmo ano desta aquisição, o Governo líbio assinou um acordo com o grupo Al Kharafi, empresa com sede no Kuwait, para desenvolver um resort em Tajura, perto de Trípoli.

Não demorou muito para o negócio começar a ir por água abaixo e, em 2010, foi cancelado por parte do Executivo. O grupo privado respondeu, tendo processado o país num tribunal do Cairo, no Egipto, que, em 2013, decidiu que a empresa devia ser indemnizada em quase 800 milhões de euros.

O grupo Al Kharafi também processou o estado líbio em França, por isso, quando o avião aterrou, houve uma tentativa de apreensão. Porém, em 2015, um tribunal francês decidiu que a aeronave pertencia a uma nação soberana e, por isso, gozava de imunidade para uma ação judicial desta natureza. A empresa recorreu desta decisão, os anos foram passando e o avião continuou abandonado à sua sorte.

Em 2016, os custos de manutenção do Airbus A340 já ascendiam a quase três milhões de euros, o que fez com que a Air France também se tornasse parte do processo judicial, dando uma nova complexidade ao caso.

Apesar de tudo, parece que a aeronave continua a ser cuidada. No ano passado, observadores locais viram os seus motores a trabalhar, um procedimento regular entre aviões que estão parados há muito tempo. Contudo, no meio de vários processos judiciais que parecem não ter fim à vista, é difícil dizer o que o futuro lhe reserva.

Filipa Mesquita, ZAP //



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