A transportadora aérea SATA apresenta esta sexta-feira um plano de reestruturação até 2020 que prevê a renovação e redução das frotas de aviões, a renegociação de uma dívida de 179 milhões de euros e diminuição de custos já este ano.
No documento, a que a Lusa teve acesso, a empresa assume a sua “deterioração económico-financeira” nos últimos anos e diz que “a solução para as dificuldades” tem sido “a contração de dívida bancária adicional de curto-prazo para o cumprimento de responsabilidades correntes”, com condições de financiamento “cada vez mais penalizadoras”, com uma taxa de juro média de 7%.
“Além do agravamento da função financeira e das condições de financiamento, o volume da dívida do Grupo SATA implica a implementação rápida de um processo de reestruturação financeira”, lê-se no documento, que será hoje apresentado pelo Governo dos Açores (único acionista da SATA) e pela administração da empresa aos deputados do Parlamento da região autónoma.
A SATA estima que fechou 2014 com uma dívida financeira de 179 milhões de euros, correspondendo 128,8 milhões a créditos bancários que quer reestruturar, procurando uma “solução de financiamento global e integrante” todo o passivo financeiro”.
Essa solução inclui linhas de crédito de curto e médio prazo e uma outra “subordinada” à regularização, por parte dos governos da República e dos Açores, dos montantes que devem à SATA e que a empresa calcula ascenderem a 63 milhões de euros.
A SATA espera desta forma chegar ao final de 2020 com uma dívida à banca reduzida a 40 milhões de euros.
Reestruturação da frota vai refletir no número de tripulantes
Por outro lado, ainda em 2015, vai pôr em marcha um “programa de redução de custos fixos e de estrutura“, que não quantifica, mas que considera “indispensável para a sustentabilidade do grupo”.
Assim, vai ser criada a SATA Serviços Partilhados, que centralizará serviços de contabilidade, compras, gestão de recursos humanos, sistemas de informação, entre outros, de todas as empresas do grupo. O objetivo é “ganhar eficiência” através de “processos normalizados”, reestruturar e reconverter recursos humanos e reduzir custos administrativos.
A empresa acionará também este ano a “renegociação e/ou suspensão do Acordo de Empresa”, não havendo mais explicações no documento.
Ainda no que toca aos recursos humanos, refere a necessidade da sua “reestruturação e requalificação” e que a redução da frota terá um “consequente reflexo no número de tripulações”, sem dar mais detalhes.
A renovação da frota de longo e médio curso da SATA é justamente outra das mudanças que avançam já em 2015 e que a empresa considera um “imperativo” para a sua “sustentabilidade futura”.
A frota de longo curso da SATA Internacional (que faz as ligações para fora dos Açores), composta por quatro aviões A310, com capacidade para 222 passageiros cada, está “desatualizada” e tem “elevados custos de manutenção”.
Estes quatro aviões serão substituídos, ao longo de 2015, por apenas dois, com capacidade para entre 250 e 300 passageiros cada um, e serão usados para as ligações para a América do Norte (EUA e Canadá, onde se concentra a emigração açoriana).
Azores Airlines
Também a atual frota de médio curso passará a ter menos um avião, a partir de maio, mantendo a SATA três dos A320 que já utiliza em regime de locação. Estes aviões continuarão a ser usados para os voos entre os Açores e o continente e para fazer ligações na Macaronésia (Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde).
Será nestas ligações que a SATA Internacional passará a concentrar a sua operação. Quanto à Europa, admite apenas “avaliar” ligações que tenham “adequada rentabilidade”.
A SATA Internacional, que em 2015 passará a chamar-se Azores Airlines, quer “afirmar-se como player relevante no mercado da Macaronésia”. A aposta em Cabo Verde visa “oferecer uma ligação entre Cabo Verde e Boston, onde reside uma forte comunidade emigrante cabo-verdiana”.
A nova designação Azores Airlines tem como objetivo associar a região à companhia aérea nos mercados internacionais.
Todas as mudanças com vista a uma “melhoria operacional e comercial” da empresa são “particularmente focadas” na SATA Internacional e visam “inverter a insustentabilidade” das suas operações atuais.
A SATA terminou 2013 com prejuízos de 15,75 milhões de euros, sendo as perdas da SATA Internacional 12,87 milhões.
Ainda se desconhecem os resultados de 2014, mas a empresa espera que a agora Azores Airlines tenha já resultados líquidos positivos em 2015 de 1,1 milhões de euros, que o número de passageiros cresça de 600 mil em 2015 para perto de 660 mil em 2020.
Quanto à SATA Air Açores, o plano prevê que continue a dar prejuízos até 2018 e o “sobredimensionamento” da frota No entanto, o documento foi elaborado com base nas obrigações de serviço público do transporte aéreo dentro dos Açores que estão em vigor e que vão ser revistas este ano.
A SATA anuncia por isso uma revisão deste plano de negócios em 2016, para refletir esta questão, mas também o impacto em todo o grupo da liberalização, este ano, de algumas das rotas entre os Açores e o continente.
/Lusa