Pela primeira vez em quase 10 anos, França, proprietária do local, reabriu esta quinta-feira o Túmulo dos Reis, mas o acesso a esta jóia arqueológica no coração de Jerusalém pode ser dificultado pelas disputas religiosas e políticas.
A reabertura aos visitantes deste notável exemplo da arquitetura funerária judaica nos tempos romanos foi marcada por uma grande confusão provocada por judeus ultraortodoxos do lado de fora. A segunda visita do dia foi cancelada e os visitantes serão reembolsados, informou o consulado geral da França em Jerusalém, de acordo com a AFP.
O portal fechado ao público desde 2010 foi reaberto como planeado às 9h locais para quinze pessoas que agendaram previamente a visita pela Internet. Mas cerca de quinze judeus ultraortodoxos, reconhecíveis pelos fatos pretos e camisas brancas, dirigiram-se ao local sem efetuar reservas para orar.
Os judeus ultraortodoxos reverenciam o local como o de sepultamento da rainha Helene de Adiabene, convertida ao judaísmo no século I d.C, e de notáveis judeus do mesmo período. Os guardas impediram o acesso e os ultraortodoxos tentaram forçar a entrada. Funcionários do consulado foram atacados, segundo testemunhas.
Os primeiros visitantes tiveram que sair por uma porta secundária com a ajuda de polícias e agentes de segurança.
“Este é um lugar sagrado para os judeus”, disse um dos ultraortodoxos, Jonathan Frank, de 31 anos. “Em qualquer outro lugar do mundo, quando judeus ou pessoas de outra religião querem orar num lugar sagrado, podem fazê-lo”. “Não deveríamos ter de pagar para orar”, insistiu.
O Túmulo dos Reis é um monumental conjunto funerário talhado na rocha. Mencionado em escritos ao longo dos séculos, é geralmente identificado com o túmulo de Helene de Adiabene, que veio morar e morrer em Jerusalém.
A França adquiriu a propriedade em 1886. Pretendendo abrir o túmulo ao público, investiu cerca de um milhão de euros em obras de restauro. Mas o local não escapa das discussões, como tudo o que se refere à arqueologia na Cidade Santa. Os judeus contestam o direito de propriedade francês. Os ultraortodoxos exigem acesso ilimitado. Nos círculos arqueológicos, teme-se que o lugar seja subtraído da ciência para o benefício do culto religioso.
Além disso, o Túmulo está localizado em Jerusalém Oriental, a parte palestina de Jerusalém ocupada por Israel desde 1967 e anexada. França, como a comunidade internacional, nunca reconheceu essa anexação. Os palestinos querem fazer de Jerusalém Oriental a capital do Estado a que aspiram.
Inicialmente, França decidiu limitar o acesso a 15 visitantes, com reservas, em duas manhãs por semana, para garantir uma operação pacífica. Mas insinuou que pode repensar a estratégia.
Esta quinta-feira, cerca de quinze visitantes puderam vislumbrar a vasta escadaria que leva a um enorme pátio com vista para a arquitrave do mausoléu esculpida em pedra calcária. No interior, salas de hipogeu contêm 31 túmulos, fechados por um raro exemplar ainda no lugar de pedra rolante. As sepulturas não são acessíveis por razões de segurança.
Entre os visitantes estavam alguns guias turísticos, uma historiadora, particulares, principalmente franceses, e alguns ativistas. Ori Ohaion, de 29 anos, aguardava esse momento há “alguns anos”. Sob o vasto vestíbulo, rezou “para que todos os judeus possam aceder e orar nos locais sagrados, especialmente no Monte do Templo”.
O Monte do Templo, o local mais sagrado do judaísmo localizado a poucas centenas de metros do Túmulo dos Reis, é o nome judaico da Esplanada das Mesquitas. Os judeus têm acesso, mas são proibidos de orar lá.