Cansados das cheias e dos turistas, habitantes começam a sair de Veneza

As cheias dos últimos anos, o excesso de turismo e a falta de qualidade de vida são alguns dos motivos que levam os habitantes de Veneza a deixar a cidade.

Patricia Blaci vive em Veneza há 25 anos, mas depois de a sua casa ter sido severamente danificada pelas inundações, em novembro do ano passado, as piores desde 1966, decidiu deixar a cidade.

“Não foi uma decisão fácil, tenho um profundo afeto por esta cidade e lutei por ela. Mas tornou-se muito difícil ficar. É como viver num barco. Ocasionalmente, a água entra, sobe e desce, tal como uma maré. Desta vez, aumentou muito e durou cinco dias”, conta a arquiteta e guia turística, que se vai mudar para Espanha, ao jornal The Guardian.

De acordo com o diário britânico, o centro histórico da cidade italiana e as suas onze ilhas habitadas perderam, no ano passado, 1092 pessoas para outras cidades e, em alguns casos, para outros países.

A subida do nível do mar, as inundações recorrentes, o custo de vida alto, associado também ao excesso de turismo, e, agora, o despovoamento são algumas das maiores ameaças que a cidade enfrenta.

“Veneza não perdeu a sua alma, vendeu-a”, afirma ao jornal Maria Teresa Laghi, italiana que tem uma das poucas lojas tradicionais que ainda existem no bairro de San Polo.

A autarquia, liderada por Luigi Brugnaro, defende que o problema não é só a despovoação, mas também o facto de haver nesta zona uma população muito envelhecida. Entre janeiro e outubro de 2019, houve 1038 mortes e apenas 361 nascimentos.

Ao mesmo tempo, relembra o município, embora mais de mil pessoas tenham abandonado Veneza, também chegaram outros 1172 novos habitantes. Um número que, na opinião de Matteo Secchi, é totalmente falso.

“Este número é falso porque, em muitos casos, as pessoas vêm aqui, compram uma casa e depois alugam-na a turistas enquanto vivem noutro lugar. Estimamos que cerca de 5000 ‘habitantes’ façam isso”, diz o responsável do grupo ativista Venessia.

Cerca de 60 mil turistas visitam diariamente, no verão, o centro histórico de Veneza, onde vivem atualmente 52 mil pessoas. A partir de julho deste ano, os turistas que estejam de passagem pela cidade e pelas ilhas da laguna pagarão até dez euros.

Quem ficar a dormir na cidade não terá de pagar esta nova taxa, até porque já paga a normal taxa turística de alojamento (atualmente, até cinco euros por pessoa por noite).

ZAP //



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