Machu Picchu em greve por tempo indeterminado. Turistas forçados a sair

sandeepachetan.com / Flickr

Cidade inca de Machu Picchu

Centenas de turistas forçados a abandonar apressadamente a joia peruana e uma das sete maravilhas do mundo. Protestos contra a “privatização sistemática” da cidade inca partem para o quinto dia consecutivo.

Saída de turistas, protestos, encerramento de empresas e uma “greve por tempo indeterminado”. É este o cenário atual em Machu Picchu, o icónico local arqueológico do Peru considerado uma das sete maravilhas do mundo moderno.

A situação conturbada ocorre depois de uma empresa privada, Joinnus, assumir a comercialização dos bilhetes do local. Os manifestantes consideram que a novidade representa uma “privatização sistemática” da cidade inca e, pelo quarto dia consecutivo desde quinta-feira, os operadores turísticos e residentes mantiveram esta segunda-feira os seus negócios fechados e bloquearam o acesso à região em protesto.

As atividades dos comboios que levam as pessoas ao parque arqueológico também foram suspensas por precaução, provocando a saída apressada de centenas de turistas.

Machu Picchu, uma das joias do turismo peruano, atraiu cerca de 4,5 milhões de visitantes ao país antes da pandemia em 2020.

O que pedem os manifestantes?

Os manifestantes exigem o cancelamento do contrato com a Joinnus.

Após negociações infrutíferas entre os ministros da Cultura e do Comércio Externo e Turismo, o presidente da câmara de Machu Picchu e o governador Werner Salcedo declararam este domingo a “radicalização” da greve.

Grande parte dos protestos são dirigidos contra a ministra da Cultura peruana, Leslie Urteaga, a quem é atribuída culpa por permitir a venda de bilhetes pela Joinnus.

Ministra da Cultura, não alugue Machu Picchu, alugue a sua casa“, dizia uma das faixas carregadas pelos manifestantes, que também questionam “a cobrança de uma comissão de 3,9% por bilhete vendido” pela empresa, segundo comunicado do coletivo popular de Machu Picchu.

Urteaga negou que a venda de bilhetes estivesse a ser privatizada, defendeu que “Machu Picchu pertence a todos os peruanos” e propôs uma mesa de diálogo para encontrar uma solução.

A empresa Joinnus, por outro lado, disse que se colocou “à disposição” do Ministério da Cultura para iniciar um novo processo seletivo caso seja necessário e que “renunciou voluntariamente ao recebimento da comissão variável por bilhete por um período de seis meses.”

No entanto, as declarações não parecem ter acalmado os manifestantes, que aguardam agora o resultado de negociações marcadas para esta terça-feira, 30 de janeiro.

“Impacto de milhões” na economia

O turismo está a ser a grande vítima da paralisação por tempo indeterminado. Centenas de visitantes não conseguiram aceder à atração turística ou voltar para as suas acomodações, o que levou as autoridades a intervir para realojá-los.

Vários órgãos de comunicação social publicaram imagens de turistas a completar a viagem a Machu Picchu a pé e sob chuva.

Carlos González, presidente da Câmara de Comércio e Turismo de Ollantaytambo, outro importante ponto de acesso às ruínas, estimou que 1.800 turistas tiveram de ser retirados.

O Defensor do Povo do Peru “rejeitou o bloqueio de estradas pelos manifestantes” e insistiu que “todas as reivindicações devem ser canalizadas através do diálogo”. O direito de protestar “não confere poder aos manifestantes para impedir a livre circulação ou afetar os direitos de outras pessoas”, acrescentou.

Os encerramentos também prejudicaram a economia local.

Roland Llave, reitor da Faculdade de Turismo de Cuzco, disse à rádio peruana RPP que “o impacto é de milhões de soles” para as famílias da região. Elas dependem em grande parte do fluxo de viajantes que necessitam de guias, hotelaria e alojamento.

Machu Picchu, declarado em 1983 Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), enfrentou vários desafios nos últimos tempos.

No final de dezembro, os ministérios da Cultura, do Comércio Externo e Turismo e do Meio Ambiente anunciaram o aumento do número de visitantes para até 5.600 pessoas em dias específicos e 4.500 em datas comuns.

Durante décadas, a região sofreu com problemas de conservação e sustentabilidade devido ao elevado número de visitantes.

Em setembro, o próprio Ministério da Cultura anunciou o encerramento da visita a três setores da cidade inca devido ao desgaste dos seus elementos líticos. Antes, no início de 2023, a atração ficou fechada por cerca de um mês devido a bloqueios feitos por protestos contra o governo.

ZAP // BBC



DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here