Situado ao largo do Senegal, o arquipélago de Cabo Verde sofre com o seu isolamento. Trata-se de uma localização geográfica, como uma guarda avançada instalada em pleno oceano Atlântico, que poderia paradoxalmente constituir uma excelente mais-valia para, assim, se transformar numa plataforma aérea, para responder ao mesmo tempo à Europa, à África e às Américas.
Como quebrar o isolamento de um país que ninguém sabe verdadeiramente localizar no planisfério? Pergunte às pessoas à sua volta e verá que terão apenas uma vaga ideia de que se encontra ao largo de uma costa qualquer. Talvez da África, ou de Portugal, de Marrocos…. Temos de ir mais para sul, no alinhamento da fronteira entre o norte do Senegal e o sul da Mauritânia.
Praia, a capital do arquipélago, encontra-se a 650 km ao largo de Dacar, a uma curta distância de avião. A débil economia deste país aposta nos serviços e no turismo. Os recursos naturais de Cabo Verde são muito fracos, limitando-se a bananas, sal e pesca (atum, lagosta, etc.).
O país ingressou na OMC (Organização Mundial do Comércio) apenas em 2008.
Geografia: ponto fraco ou forte?
Sob o ponto de vista geográfico, o potencial do país está na sua unicidade. Basta olhar para o planisfério para nos apercebermos de que o isolamento deste arquipélago vulcânico constitui igualmente um ponto forte.
Ergue-se como um posto avançado no cruzamento das rotas entre a África e a América do Norte e entre a Europa e o Médio Oriente e a América do Norte… Uma posição geográfica ideal para as companhias aéreas que não dispõem de aviões de longo curso com capacidade de efetuar voos intercontinentais.
Contudo, para destacar todo este potencial, seria necessário tomar uma série de medidas num país que, mesmo assim, pode orgulhar-se por ter saído dos cinco piores países do mundo em termos económicos, ocupando atualmente o 190.º lugar a nível mundial.
Em Cabo Verde, estamos longe do postal com a cantora Cesária Évora. Ainda há muito a fazer, e os investimentos são bem-vindos.
À semelhança do que aconteceu em Portugal no início dos anos 90, são as instituições internacionais e os países doadores que pressionam as autoridades a privatizar alguns setores da economia cabo-verdiana para reequilibrar as contas públicas.
Atualmente, Cabo Verde apresenta uma dinâmica positiva e o seu défice está em regressão. Um dos primeiros indícios deste facto é o setor das energias alternativas, sendo a eólica a principal, com um programa ambicioso de autossuficiência até 2025.
«Os recursos eólicos do país são equiparados aos de Marrocos, tendo o potencial solar do Sahel, recursos geotérmicos semelhantes aos do Quénia e uma energia marinha comparável à de muitos países costeiros», afirma Erik Nordman, professor investigador na universidade de Grand Valley State. É enorme.
É uma verdade de La Palice: o país encontra-se ainda numa fase muito básica porque os seus serviços são rudimentares. A entidade gestora aeroportuária ASA (Aeroportos Aérea SA) só teria a ganhar se houvesse investimentos significativos. O próprio terminal é um sumidouro financeiro, sendo que o Estado cabo-verdiano injeta 100 000 dólares por dia para poder funcionar, facto que não pode durar muito mais tempo.
Contudo, a história registou solavancos. O antigo primeiro-ministro José Maria Neves (em funções de 2001 a 2016) tinha anunciado a privatização da companhia aérea TACV sem a intervenção desta.
Pressionado pelo Banco Mundial que preconizava a liquidação pura e simples da companhia do Estado (o que implicaria 510 despedimentos forçados), o cenário de uma privatização impôs-se por fim como sendo necessário.
Atualmente, o que se mostrou ser benéfico para a companhia aérea é o que se tenciona fazer para os aeroportos, com a diferença de se tratar de uma concessão prevista relativamente aos últimos.
Por sua vez, o presidente do conselho de administração da ASA, Jorge Benchimol Duarte, mostrou-se rapidamente favorável a uma operação deste tipo.
«Se analisarmos o que acontece no mundo, a maior parte dos aeroportos tem gestão privada. O figurino – concessão pura e simples ou privatização – será definido pelo governo, está na agenda do governo e definido o figurino a ASA estará preparada para o que o governo entender ser a melhor opção. A missão do conselho de administração é preparar a empresa para o futuro e o futuro da gestão aeroportuária, tudo leva a crer, terá de ser feita por entidades privadas.»
O apelo está lançado.
Atrações turísticas intrínsecas, mas…
Basta abrir a porta do aeroporto de Praia para perceber isso. Sobre a porta de entrada automática, um placard que poderia ser luminoso indica Departures/Partidas.
Ao entrar, o viajante pensaria estar em Lárnaca nos anos 90 ou até mesmo agora. O conforto é, diríamos, rudimentar. No entanto, o país apresenta um verdadeiro potencial turístico: a arquitetura da cidade e o porto de Praia são encantadores, o ambiente é descontraído, partilhando este toque de nostalgia com Cuba, enquanto a ilha da família Castro ainda não é absorvida pelos americanos à semelhança do que acontece com uma parte da Costa Rica.
Tudo isto apenas a 3000 km de avião. A bela cidade de Praia estagnou no tempo: é charmosa para os turistas, mas não o suficiente para transformar a economia. Relativamente à prescrição do Banco Mundial, a chegada de um operador privado estrangeiro é o medicamento aconselhado para colocar o aeroporto a funcionar na sua capacidade plena.
Profissionalizar o turismo para salvar a economia
No passado mês de março, coube ao primeiro-ministro Ulisses Correia, em funções desde 2016, lançar uma nova operação de charme, apontando para que a concessão dos aeroportos ocorresse o mais cedo possível, antes do fim de 2019.
Todos os agentes sabem que o desenvolvimento de Cabo Verde, enquanto nação e potência económica, só será efetuado através de investimentos avultados que o Estado cabo-verdiano não é capaz de fazer porque não dispõe dos meios para isso.
Ao livrar-se do setor aéreo, o Estado poderia igualmente estancar a hemorragia e diminuir o nível da dívida pública.
Na melhor das hipóteses, Cabo Verde continuará a seguir os passos de Portugal para que o governo de Praia tenha como base a cessão realizada, em 2012, ao setor privado de uma dezena de aeroportos em Portugal.
Volvidos sete anos, o setor aeroportuário português apresenta um desempenho positivo, pelo que Cabo Verde poderia inspirar-se nele. Se a concessão avançar este ano, o arquipélago poderá, finalmente, reclamar o seu lugar no planisfério aos olhos de todo o mundo.