O “Havai gelado”. Há uma vila dinamarquesa que se tornou um destino de surf improvável

Cold Hawaii / Flickr

Klitmøller, Dinamarca

Com uma grande herança na pesca, a pequena vila de Kitmøller na Dinamarca ganhou uma nova vida nas últimas décadas, quando se tornou um destino de eleição para o surf.

Klitmøller, uma pitoresca aldeia piscatória na costa noroeste da Dinamarca, transformou-se num vibrante spot de surf conhecido como Cold Hawaii, ou Havai gelado.

Esta metamorfose atraiu uma comunidade diversificada de recém-chegados que procuram um ritmo de vida mais lento junto ao mar, incluindo Mai Knudsen, uma antiga engenheira civil que deixou o seu emprego altamente stressante em Copenhaga para abrir um café de panquecas e abraçar um novo estilo de vida.

Aos 33 anos, Knudsen tinha alcançado sucesso profissional, mas sentia-se insatisfeita. “O trabalho era muito stressante“, recorda à BBC. “Passava os fins-de-semana sem fazer nada, só para me aguentar antes de voltar na segunda-feira.”

A sua primeira visita a Klitmøller mudou tudo. Mudou-se para a cidade costeira, transformando o seu sonho de ter um café em realidade. Hoje, Knudsen gere o Kesses Hus e passa a época baixa a fazer surf, encarnando o espírito da nova comunidade do Havai gelado.

A transformação de Klitmøller começou nos anos 80, quando foi descoberta pelo windsurfer alemão Christian Dach. O seu entusiasmo pelas ondas selvagens da zona espalhou-se, acabando por atrair surfistas de todo o mundo. Em 1994, um documentário sobre windsurf comparou a zona ao Havai, embora mais fria, cimentando a sua reputação na comunidade mundial do surf. No entanto, o fluxo de jovens surfistas causou inicialmente fricções com a comunidade piscatória local, que não estava preparada para a súbita mudança.

Preben Toft Holler, um residente e pescador de longa data, recorda o declínio da cidade após a transferência do porto para o vizinho porto de Hanstholm, em 1967. Klitmøller tornou-se uma cidade fantasma, até que a chegada dos surfistas começou a reavivar a sua sorte. “Já éramos muito poucos”, diz. A presença dos surfistas começou por gerar tensões, pois eram vistos como forasteiros que pouco contribuíam para a economia local.

Rasmus Johnsen, que se mudou para o Havai gelado em 2005, desempenhou um papel fundamental na promoção da cooperação entre surfistas e pescadores. Trabalhou com o governo local para apoiar a abertura de escolas de surf e lojas de aluguer, organizou competições internacionais de surf e promoveu o diálogo entre as duas comunidades. “Sem as duas, nenhuma delas estaria a viver em Klitmøller”, reflecte. A colaboração rejuvenesceu a cidade, misturando a sua herança piscatória com uma nova cultura de surf.

Uma mudança significativa nas atitudes ocorreu quando os netos dos pescadores começaram a fazer surf, fazendo a ponte entre os dois grupos. Atualmente, Klitmøller é uma comunidade próspera onde coexistem pescadores tradicionais e surfistas modernos. A cidade cresceu de 800 habitantes em 2000 para cerca de 1300, e o turismo está a crescer. Recém-chegados de todo o mundo, incluindo sul-africanos, brasileiros, australianos e alemães, fizeram da cidade a sua casa, muitas vezes trabalhando remotamente e contribuindo para a economia local.

O espírito de colaboração estende-se para além do surf. A orla marítima de Klitmøller está repleta de galerias, boutiques, padarias orgânicas e espaços de co-working. As tradições locais persistem, como dar às casas o nome dos anteriores proprietários e eventos comunitários como concertos de jazz e projeções de filmes em antigos estábulos. Tanto os pescadores como os surfistas orgulham-se de manter o encanto e a beleza natural da cidade.

O café de Knudsen, Kesses Hus, batizado com o nome do construtor naval que construiu a sua casa, simboliza esta mistura de velho e novo. Ela valoriza os pescadores que passam por lá com peixe fresco, fomentando um sentido de comunidade ao comer panquecas. Refletindo sobre a sua mudança, diz: “Eu sabia que podia realmente viver aqui“.

ZAP //



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