As temperaturas no Qatar estão tão altas que já há ar condicionado nas ruas

As temperaturas no Qatar, um dos lugares mais quentes do planeta, aumentaram tanto que as autoridades estão a instalar equipamentos de ar condicionado no exterior dos edifícios, nas ruas e nos mercados.

O país, onde as temperaturas podem chegar aos 46°C no verão, está a instalar aparelhos de ar condicionado nos estádios de futebol para o Campeonato do Mundo de novembro, informou esta sexta-feira o Independent. O receio de que o número de torcedores visitantes pudesse diminuir, levou à decisão de adiar o campeonato por cinco meses.

Frigoríficos gigantes foram também instalados ao longo dos passeios e em lojas de rua. Contudo, a utilização desses equipamentos faz parte de um círculo vicioso e acelerado, visto que a eletricidade que os alimenta provém de combustíveis fósseis, emitindo ainda mais dióxido de carbono para a atmosfera e agravando a emergência climática.

O Qatar, o país com maior emissão de gases de efeito estufa per capita, segundo o Banco Mundial – emite quase três vezes mais que os Estados Unidos e quase seis vezes mais que a China -, utiliza cerca de 60% de sua eletricidade na refrigeração.

Na China ou na Índia, por exemplo, os equipamentos de ar condicionado são responsável por menos de 10% do uso de eletricidade.

De acordo com a Conferência Distrital de Aquecimento e Resfriamento, a capacidade total de refrigeração do país – e as emissões – deverão duplicar até 2030, tendo em consideração os níveis de 2016.

“Se desligarmos os aparelhos de ar condicionado, será insuportável. Não funcionamos de forma efetiva”, disse ao Washington Post o fundador da Organização do Golfo para Pesquisa e Desenvolvimento, Yousef al-Horr.

Nas áreas urbanas em rápido crescimento no Oriente Médio, algumas cidades previstas podem se tornar inabitáveis, disse diretor sénior de pesquisa do Instituto de Pesquisa em Meio Ambiente e Energia do Catar, Mohammed Ayoub. “Estamos a falar de um aumento de 4 a 6 graus Celsius numa área que já tem altas temperaturas”, explicou.

O perigo é grande por causa da humidade. Quando esta é muito alta, a evaporação da pele abranda ou pára. Se estiver quente e húmido, e a humidade relativa perto dos 100%, é possível “morrer pelo calor produzido pelo próprio corpo”, indicou Jos Lelieveld, do Instituto Max Planck de Química, na Alemanha.

As temperaturas do Qatar já subiram mais de 2ºC, ultrapassando o objetivo internacional para limitar um desastre. Segundo os especialistas, isso acontece devido à natureza desigual das mudanças climáticas e ao aumento da construção, que afeta o clima em Doha, a capital. O ideal seria que a temperatura não aumentasse mais que 1,5 graus.

No verão, as temperaturas durante a noite raramente ficam abaixo dos 32°C. Numa onda de calor, em julho de 2010, as temperaturas atingiram a máxima histórica de 50,4°C.

No mercado Souq Waqif, nas lojas, nos restaurantes e nos pequenos hotéis, aparelhos de ar condicionado refrescam aos clientes. Mas o problema está no exterior. Uma reportagem de uma televisão alemã apontou para centenas de mortes de trabalhadores estrangeiros no Qatar nos últimos anos, levando a que tenham sido estabelecidos novos limites para o trabalho ao ar livre.

O governo disse que o Campeonato do Mundo de Futebol será neutro no que toca à emissão de carbono, tendo recentemente divulgado um projeto para plantar um milhão de árvores, ideia essa que pelo menos um especialista condenou como “irrealista”.

No novo estádio ao ar livre de Al Janoub, grades construídas sob os 40 mil assentos expelem o ar fresco. Como o ar frio desce, este chega até ao campo.

No mês passado, quando Doha sediou o Campeonato do Mundo de Atletismo, a maratona feminina foi alterada para a meia-noite e esponjas embebidas em água gelada eram entregues às atletas. Os socorristas superaram os participantes em número, mas mesmo assim alguns concorrentes tiveram que ser retirados em cadeiras de rodas.

“O Qatar é uma das áreas de aquecimento mais rápido do mundo, pelo menos fora do Ártico. As mudanças que lá ocorrem podem nos ajudar a ter uma noção do que o resto do mundo pode esperar se não tomarmos medidas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa”, afirmou o especialista em dados climáticos Zeke Hausfather.

ZAP //



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