Atrasos nos voos causam desespero. Mas por que é que têm aumentado?

Está a ser um Verão desesperante para muitos passageiros que fazem planos de viagens nas suas férias. Os voos atrasados, ou cancelados, têm sido uma constante e ninguém entende muito bem o que se está a passar. Na verdade, há uma combinação de factores que complica a situação nos aeroportos.

As queixas dos passageiros sucedem-se, não apenas em Portugal, mas um pouco por toda a Europa. Com algumas greves à mistura, há outros factores que estão a contribuir para um cenário de pesadelo nos aeroportos.

Por um lado, há um aumento do número de passageiros, nomeadamente de portugueses que estão a viajar. A par disso, o sector da aviação mantém um problema de falta de mão-de-obra depois de cortes no pessoal feitos pelas empresas durante a pandemia.

Nas redes sociais, há muito quem lamente os incómodos sofridos com voos atrasados, ou simplesmente cancelados. E se há quem aponte a mira das críticas à TAP, também há quem note que o problema não é apenas da companhia portuguesa.

Aeroporto de Lisboa é o segundo pior da Europa

Nos primeiros seis meses de 2023, o número de voos alvo de algum tipo de incidente, por exemplo, um atraso ou cancelamento, subiu 67% relativamente ao mesmo período de 2022, de acordo com dados da empresa AirHelp, especializada na defesa dos direitos dos passageiros, que são citados pelo Jornal de Negócios.

Em mais de 100 mil voos agendados nos aeroportos portugueses até Junho, cerca de 35 mil sofreram algum atraso ou foram cancelados, o que coloca Portugal acima da média europeia.

Pelo menos 4,8 milhões de passageiros foram afectados por este cenário, segundo os dados da AirHelp.

De acordo com esta empresa, a pior companhia de aviação foi a Swiss Air Lines, com 45% dos passageiros afectados. Seguem-se Lufthansa e Easyjet, com a TAP a surgir no meio da tabela com quase 40% dos passageiros afectados.

O aeroporto de Lisboa surge como o segundo pior da Europa neste âmbito, logo atrás de Gatwick, em Londres, conforme dados divulgados no início deste mês pelo jornal britânico Daily Mail. Cerca de 43% dos passageiros do aeroporto da capital portuguesa foram afectadas por atrasos, ou cancelamentos.

Este dado é tão mais preocupante quando se aproxima a Jornada Mundial da Juventude, altura em que se espera uma grande afluência de visitantes. E a situação tende a agravar-se devido a greves marcadas para essa altura.

Falta o novo aeroporto

“Mais de metade dos voos no Aeroporto Humberto Delgado sofrem atrasos superiores a 15 minutos ou são cancelados”, lamenta, na rede social Twitter, o vice-presidente da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz, do PSD.

O político critica, assim, a “inércia” do Governo, notando que “assumiu compromissos urgentes com o PSD em relação a obras necessárias”, mas queixando-se de que “nada foi feito” e que, por isso, Lisboa está no “pódio do caos”.

“Com o PSD já teríamos obras prontas e novo aeroporto a funcionar”, frisa ainda Pinto Luz a propósito da obra que tarda em nascer.

Em termos nacionais, o aeroporto Cristiano Ronaldo, na Madeira, é o segundo pior, com 31% dos passageiros afectados por atrasos ou cancelamentos.

Por outro lado, o aeroporto do Porto é o melhor com 27% dos passageiros afectados.

Recorde de passageiros em Maio

Os aeroportos nacionais movimentaram 6,2 milhões de passageiros em Maio, uma subida homóloga de 15,2% e 10,7% acima de Maio de 2019, antes da pandemia, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

“Desde o início de 2023 têm-se verificado máximos históricos nos valores mensais de passageiros nos aeroportos nacionais”, destaca o INE no relatório “Estatísticas Rápidas do Transporte Aéreo” que é relativo a Maio.

No mês em análise, registou-se o desembarque médio diário de cerca de 100 mil passageiros nos aeroportos nacionais, valor superior ao registado em Maio de 2022 (87,1 mil; +15,0%) e 10,6% acima do verificado em Maio de 2019 (90,6 mil).

Destes números, 82,3% dos passageiros desembarcados nos aeroportos nacionais corresponderam a tráfego internacional, atingindo 2,6 milhões de passageiros, na maioria provenientes do continente europeu (70,1% do total), um aumento de 14,0% face a Maio de 2022.

O continente americano foi a segunda principal origem, concentrando 8,6% do total de passageiros desembarcados.

Relativamente aos passageiros embarcados, 81,9% corresponderam a tráfego internacional, perfazendo um total de 2,5 milhões, tendo como principal destino aeroportos no continente europeu (71,2% do total), registando um crescimento de 14,3% face a Maio de 2022.

Os aeroportos no continente americano foram o segundo principal destino dos passageiros embarcados (7,6% do total).

No acumulado de Janeiro a Maio, o número de passageiros movimentados nos aeroportos nacionais aumentou 33,6% face a igual período de 2022, e 13,0% relativamente a 2019.

O aeroporto de Lisboa movimentou 51,8% do total de passageiros (12,9 milhões), tendo crescido 36,9% quando comparado com o mesmo período de 2022.

Já o aeroporto do Porto concentrou 22,7% do total de passageiros movimentados e aumentou 32,0%, enquanto o aeroporto de Faro registou um crescimento de 24,0% (+6,2% face ao mesmo período de 2019).

Falta de mão-de-obra preocupante

A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) já veio manifestar a sua “preocupação” com a situação do tráfego aéreo na Europa e nos EUA. “Ambos são decepcionantes”, salienta o director-geral da IATA, Willie Walsh, num comunicado que é citado no site da Confederação do Turismo de Portugal.

A IATA repara que as companhias aéreas continuam a “registar um atraso inaceitável em relação aos níveis de 2019″, apesar de estarem a trabalhar “arduamente para garantir que seriam disponibilizados recursos suficientes para minimizar as perturbações e levar os passageiros a tempo para onde precisam de estar”.

Mas há uma “falta de recursos” e os “aeroportos mais congestionados da Europa” são os que mais sofrem com a situação, aponta ainda a IATA deixando críticas aos Governos que, em 2022, “foram rápidos a criticar as companhias aéreas”, mas que nada fizeram para melhorar os mecanismos do Controlo do Tráfego Aéreo (ATC).

A IATA defende que é preciso contratar “pessoal adequado”, bem como apostar na “modernização através do Céu Único Europeu e encontrar formas de manter os serviços essenciais de ATC durante os períodos de greve, respeitando os direitos dos trabalhadores”.

ZAP // Lusa



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